quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Como preparar um sermão para um funeral?



O conselho mais útil que já recebi sobre pregar em um funeral de alguém que eu não conhecia é: “Não pregue o céu para ele. Não pregue o inferno para ele. Apenas pregue o evangelho para as pessoas que estão lá”. Este princípio captura nossa tarefa independentemente do tipo de funeral que fazemos. Ironicamente, embora nos concentremos em lembrar e celebrar a vida do falecido, o serviço funerário é, em última instância, para aqueles que participam dele.
O sermão é onde o evangelho deve ser pregado claramente.
Somente quando pudermos pessoalmente ter confiança na conversão de uma pessoa, devemos sentir-nos à vontade para falar da recompensa celestial que ela agora recebeu. Se houver alguma dúvida em sua mente, é melhor se concentrar no evangelho para seus ouvintes e resistir à tentação de fornecer um falso conforto que você tenha pouca ou nenhuma base para dar.
Um sermão fúnebre não deve exceder 20 minutos e deve destacar essas três categorias, de preferência expostas em um texto da Escritura:

1) Reconheça a necessidade do luto.

A história de Jesus levantando Lázaro dos mortos (João 11) é particularmente útil, pois parece haver um tempo legítimo de luto para os presentes e tristeza por aqueles que estão experimentando a separação que a morte traz, incluindo Jesus, que chorou (João 11:35). Frequentemente compartilho a vez em que meu pai sentou com minha esposa e eu, quando descobrimos que havíamos perdido nosso segundo bebê, e nos exortou a ter tempo de lamentar essa criança, instruindo-nos em como fazê-lo.
Nunca presuma que as pessoas saibam que o sofrimento é apropriado ou que elas sabem como lidar com o sofrimento simplesmente falando sobre o ente querido que morreu. Na verdade, muitos não querem falar sobre eles por causa da dor sentida na perda. Muitos pastores sabem que, muitas vezes, anos depois, as pessoas aprendem o valor desse processo, acabando por atravessar o luto com alguma orientação pastoral.

2) Torne a esperança do evangelho claramente conhecida.

A verdadeira esperança na dor não pode vir separada da esperança do evangelho. É por isso que a segunda e terceira partes de um sermão fúnebre enfocam a pessoa e a obra de Cristo. Seja qual for o texto que você escolher para pregar, certifique-se de poder concentrar-se a partir dele nos elementos claros do evangelho: a santidade de Deus; a pecaminosidade humana e o merecido julgamento; a pessoa perfeita de Cristo e sua obra expiatória para nos salvar; nossa resposta essencial de nos arrependermos e crermos em Cristo.

3) Chame seus ouvintes a responder ao evangelho.

Para fazer isso de forma adequada e eficaz, você deve se preparar sabendo o máximo que puder sobre seus ouvintes, bem como sobre o falecido. Você deve presumir que cristãos e não-cristãos estarão presentes. Você deve presumir que todos eles vieram com um entendimento preconcebido de como recebemos a vida eterna. Por exemplo, eu já fiz um funeral em que noventa por cento dos presentes eram católicos devotos, outro em que eram mórmons e outro ainda em que ninguém no local jamais havia pisado em uma igreja.
Em todos os casos, expliquei claramente o evangelho, chamei meus ouvintes a se arrependerem de seus pecados, a crerem em Cristo e confiarem nele. No entanto, em cada uma dessas situações diferentes, eu abordei o chamado para responder ao evangelho de maneira diferente, dependendo de seu entendimento preconcebido das “boas novas”. Exorte-os a lamentarem. Pregue o evangelho com clareza e simplicidade. Ajude-os a entender sua necessidade de Cristo enquanto a morte está diante deles.  Chame-os a se arrependerem e crerem.

Autor Brian Croft
Tradução: João Paulo Aragão da Guia Oliveira.
Revisão: Filipe Castelo Branco.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

O livro de Gênesis

Título do Livro

O título “Gênesis”, que significa literalmente “começo” e vem da palavra grega “γενέσις[1]”. Esse título foi dado ao livro pela tradução grega do Velho Testamento, chamada Septuaginta[2]. O título hebraico para esse livro é retirado das primeiras palavras do livro: “berēshith” e significa “no princípio”. Esse título é certamente apropriado, pois além de demonstrar o princípio do universo, do homem e do povo de Deus, Gênesis também “prepara o terreno para a plena compreensão da fé bíblica[3]”.


O Autor do Livro[4]

Enquanto nenhuma declaração é dada sobre quem teria escrito esse livro, a tradição sempre tem dito que o autor desse livro é Moisés. Evidências para isso tem-se encontrado:

(1) No Novo Testamento normalmente atribui Gênesis a Moisés: indicação desse fato é que em Jo.7.23 Jesus afirma que a circuncisão, que é apresentada em Gn.17.12, faz parte da Lei de Moisés. Mais comum ainda no NT é a declaração do Pentateuco como livro de Moisés

Evangelhos: Mt.8.5; 19.19.4-8; Mc.1.44; 7.10; 12.19, 26; Lc.2.22; 5,14; 20.37; Jo.1.17, 45; 7.19, 22-24; 8.5;
Atos: At.3.22; 7.44; 13.39; 15.5; 28.23;
Paulo: Rm.10.5; 10.19; 1Co.9.9;
Autor de Hebreus: Hb.9.19; 10.28.
(2) No Antigo Testamento também parece atribuir a autoria do Pentateuco (Tora) a Moisés:

Livros Históricos: Js.1.7-8; 8.31-32; 1Re.2.3; 2Re.14.6; 21.8; Ed.6.18; Ne.13.1;
Profetas: Dn.9.11-13; Ml.4.4.
O próprio Pentateuco aponta para esse fato: Ex.17.14; 24.4-8; 34.27; Nm.33.1-2; Dt.31.9, 22.
(3) Além disso, o autor do Pentateuco demonstra conhecer detalhes tão particulares da história que só uma testemunha ocular 
poderia saber:

Quantidades específicas de fontes e árvores (Ex.15.27)
Detalhes específicos do povo em ocasiões específicas (Nm.2.1-31)
Detalhes da alimentação (Nm.11.7-8)
(4) O conhecimento que o autor do Pentateuco apresenta sugere ele não poderia ser alguém de séculos mais tarde[5]:

Conhecimento da Geografia (Gn.13.10; Gn.33.17)
Conhecimento de costumes específicos (Gn.16.1-3; Gn.41.41-43)
Moisés era alguém habilitado para ter essas informações (At.7.22)
Se alguém duvidar da autoria Mosaica do Pentateuco ou de Gênesis, deve atribuir também ou falsidade ou erro, tanto dos textos do Velho, como do Novo Testamento. Em outras palavras, os profetas, escritores, apóstolos e o próprio Jesus Cristo deveriam ser considerados ou falsos ou equivocados. Portanto, “a autoria de Gênesis é atribuída a Moisés, mais provavelmente durante a jornada do Egito para Canaã, com o uso de fontes que tivesse à disposição, quer orais quer escritas, debaixo do ministério orientador do Espírito de Deus[6]”.

Estrutura e Conteúdo do Livro

Uma das características marcantes do livro é a forma como esse livro foi estruturado. Do ponto de vista da história, duas categorias são claramente reconhecidas na estrutura do livro: (1) Nos capítulos de 1.1-11.26 encontramos a história das origens de modo geral e (2) de 11.27-50.26 lemos a história da origem do povo judeu – a história dos patriarcas. Sobre essa estrutura John Hartley diz: “Gênesis 1-11 é um prefácio à história da salvação, tratando da origem do mundo, da humanidade e do pecado. Gênesis 12-50 reconta as origens da história da redenção no ato de Deus escolher os patriarcas, juntamente com as promessas da terra, posteridade e aliança[7]”.

Contudo, Moisés como hábil escritor também deixou uma clara estrutura literária para seu primeiro livro: com o uso de uma palavra específica, Moisés pode marcar dez blocos de texto onde agrupou o conteúdo do seu livro. Essa palavra hebraica é “tôledôt”, que significa gerações, genealogia. Em “cada uma dessas seções [Moisés] relata o que aconteceu com à(s) pessoa(s) mencionada(s), ou seus descendente[8]”.

Normalmente essa palavra é acompanhada de uma genealogia, conquanto também possa apresentar o desenvolvimento de algo que já foi iniciado. Esse é o caso de Gn.2.4: “Esta é a história das origens dos céus e da terra, no tempo em que foram criados: Quando o SENHOR Deus fez a terra e os céus”. Nessa ocasião Moisés faz um uso metafórico da palavra “tôledôt” para expressar que os céus foram gerados (criados) pelo Próprio Deus.

É interessante observar que a estrutura história e a estrutura literária foram de tal forma ajustadas que para a primeira parte (a história primeva) Moisés usou cinco “tôledôt”, enquanto que para a segunda parte (história patriarcal) ele o fez mais cinco vezes[9]. Seguindo essa sugestão, podemos observar a estrutura do livro da seguinte forma:

I. HISTÓRIA PRIMEVA (Gn.1.1-11.26)

Criação do Universo (1.1-2.3)
As gerações do céu e da terra (2.4-4.26)
As gerações de Adão (5.1-6.8)
A geração de Noé (6.9-9.29)
As gerações dos filhos de Noé (10.1-11.26)
II.HISTÓRIA DOS PATRIARCAS (Gn.11.27-50.26)

As gerações de Terá (11.27-25.11)
As gerações de Ismael (25.12-18)
As gerações de Isaque (25.19-35-29)
As gerações de Esaú (36.1-43)
As gerações de Jacó (37.1-50.26)

É importante lembrar que um dos recursos literários que Moisés usa na composição de Gênesis é apresentar em primeiro lugar um conjunto de informações sobre personagens que terão sua história continuada no seu relato. Por exemplo, “a genealogia de Caim (4.17-24) precede a de Sete (4.25,26); as linhagens de Jafé e Cão (10.1-8) aparecem antes de Sem (10.21,22); a genealogia de Ismael (25.12-15) antecede a de Isaque (25.19) e a de Esaú (36.1-10) precede a de Jacó (37.2)[10]”.


Propósito
“O propósito do primeiro livro do Pentateuco é fornecer um breve sumário da história da revelação, desde o princípio até que os israelitas foram levados para o Egito e estavam a ponto de se tornarem em nação teocrática[11]”. De forma prática, Gênesis parece demonstrar, do início ao fim, quem é o Deus que chamou a Moisés para liderar o Povo.

É nesse texto que Moisés registra YAHWEH como o Deus que é poderoso para Criar, Julgar e Punir, Retribuir, Chamar, Restaurar e Salvar Seu povo. Gênesis é um relato da Personalidade e Caráter de YAHWEH como Deus Poderoso, Cuidadoso, Amoroso e Soberano.

De forma anacrônica Moisés parece deixar a Soberania de Deus estampada nas páginas de Gênesis, de modo que, na primeira parte de seu livro ele demonstra quão longe o homem por suas forças pode ir, enquanto que na segunda parte ele demonstra quanto Deus faz para resgatá-los. Assim, estamos falando que, após a Criação, nos primeiro 11 capítulos de Gênesis nós vemos a degradação do ser humano: Na Queda vemos a soberania de Deus e a sentença de todo ser humano; No Dilúvio a justa retribuição história de Deus; e em Babel vemos a soberania de Deus na distribuição.

Até que, em Abraão o processo de regeneração inicia e parece reverter a cena: Em Abraão vemos a soberania de Deus na Eleição; Em Isaque a soberania de Deus na Separação; Em Jacó a soberania de Deus é percebida no cuidado; e em José vemos a soberania de Deus no controle da situação.

É como se o livro tivesse sido escrito para apresentar o caráter de Deus como chefe da Teocracia que Ele irá formar a partir de um povo exilado no Egito, retirando-os soberanamente do domínio egípcio. É óbvio que Moisés faz isso, enquanto registra os acontecimentos do seu povo.

Mensagem
Poucas pessoas foram capazes de resumir a mensagem de um livro tão grande em tão poucas palavras de modo tão impressionante: Carlos Osvaldo tem sintetizado a mensagem do livro da seguinte maneira:

“A eleição e separação de Israel como povo pactual se deu em um contexto de conflito entre o propósito Benevolente do Criador e a vontade rebelde das criaturas, a quem Ele pune com justiça e restaura com amor[12]”



Teologia de Gênesis

Como temos dito que esse livro é uma Auto-Revelação de Deus para o povo de Israel, não poderíamos deixar de falar de Sua Pessoa como apresentada por ele. Sobre isso, House diz:

“Certamente tornou-se visível um retrato nítido de Deus. Ele é a única divindade que atua nesses relatos. Só Deus cria, de maneira que só Ele julga o pecado, chama, dirige e abençoa Abraão e seus descendentes, e proteje e livra em todas as circunstâncias o povo agora chamado Israel. Esse Deus comunica-se com o povo alternadamente emanando ordens, fazendo promessas e dando orientação, Ele trabalha para tirar o pecado que atribula toda a raça humana. Esse Deus não tem qualquer começo, rival, limites de tempo ou espaço, falha moral, ou interesses ocultos[13]”

Deus é Criador:

Em Gênesis não difícil falar em um Deus Criador: “No princípio criou Deus os céus e a terra”. O relato da criação em Gênesis é realizado em duas etapas para ressaltar a Pessoa do Criador: Enquanto o primeiro relato aponta para um fato (há um Criador de todas as coisas) o segundo relato mais específico sobre a criação do homem apresenta o Criador como zeloso, atencioso e relacional. Essa descrição de Deus é certamente uma demonstração do Seu poder e de Seu cuidado graciosos.

Entretanto, é válido dizer que a descrição da criação demonstra a ordem e a dignidade dela. “Enquanto outras histórias da criação tendem a tratar a raça humana como fonte de irritação para o panteão e o mundo criado como alo que os deuses não pensaram inicialmente, Gênesis 1.1-2.3 apresenta a ordem criada como resultado da atividade intencional da parte do Deus único[14]”.

A unicidade de Deus nos primeiros versos de Gênesis também são também uma descrição de contraste entre YAHWEH, o verdadeiro Deus e os deuses pagãos. Até por que, a descrição de Deus como Criador auto-existente, solitário e auto-suficiente difere gritantemente de outros relatos antigos da criação. Falando sobre a multiplicidade de deuses do paganismo, LaSor, Hubbard e Bush afirmam que “para eles a variedade de forças personificava-se em deuses. Assim, uma divindade era multipessoal, em geral ordenada e equilibrada, mas às vezes caprichosa, instável e temerária. O texto de Gênesis 1 combate tal concepcção de divindade. Ela retrata a natureza surgindo de uma simples ordem de Deus, o que é anterior a ela e dela independente[15]”.

Outro detalhe sobre a Singularidade de Deus como Criador é estampado no uso do termo hebraico bärä’, que descreve sua ação como trazendo a criação do nada (ex nihilo[16]). Em Gn.1.1 não há qualquer indicação de matéria pré-existente que Deus teria formado, antes “afirma que Deus criou, (bärä’) sem nenhum esforço, todo o universo e tudo o que nele há[17]”. Assim, “o termo hebraico bärä’, ‘criar’, é uma palavra chave, sendo empregada seis ou sete vezes no relato da criação. Essa palavra tem Deus como seu único sujeito no Antigo Testamento, e não se fez nenhuma menção do material a partir do qual se cria algum objeto. Ela descreve um modo de agir que não possui analogia humana. Só Deus cria, assim como só Deus salva[18]”

Deus é Soberano:

Sidlow Baxter quando comenta sobre Gênesis diz: “Pelo fato de ter sido colocado logo no início dos 66 livros, Gênesis nos faz dobrar os joelhos em obediência reverente diante de Deus, por exibir perante os nossos olhos, e trovejar em nossos ouvidos, aquela verdade que deve ser aprendida antes de todas as outras em nosso trato com Deus, em nossa interpretação da história e em nosso estudo da revelação divina, a saber A SOBERANIA DIVINA[19]”.

A soberania de Deus é observada em quase todos os eventos apresentados nesse livro: Ele é o Criador Soberano, o Juiz soberano sobre o pecado do homem, na punição de Caim, no Dilúvio, em Babel. Ele é o Soberano na separação e eleição de Abraão como herdeiro das promessas. Não havia qualquer característica em Abraão digna da atenção de Deus, mas em Sua Soberania Deus o separa para dele fazer uma grande nação. “O Senhor escolhe a Abrão da mesma maneira como decide criar os céus e a terra, ou seja, a partir da liberdade absoluta resultante de ele ser o Deus único, todo-suficiente e independente[20]”.

Toda a história dos patriarcas é uma demonstração da Soberania de Deus: Abraão é eleito soberanamente por Deus; Isaque é mantido soberanamente por Deus; Jacó[21], o mais relutante de todos, demonstra a Soberania de Deus na Preservação de sua Promessa feita a Abraão e em José podemos observar a Soberania de Deus no controle das situações para formar um povo Seu em meio a um tempo de crise.

Até mesmo na tensão entre a Soberana Vontade de Deus e da vontade rebelde de suas criaturas, “o que o homem pecador tenciona para o mal, YAHWEH é mais do que capaz de suplantar para Seus propósitos de bênção e bem estar para o povo de Sua aliança[22]”. A soberania de Deus é capaz de convergir a maldade do homem para bênçãos para os Seus: Esse retrato é vívido em Gênesis.

Deus é Justo:

No trato com a humanidade desde a Criação, Deus demonstra sua habilidade para exercer sua Justiça. Na retribuição justa de Gn.3 vemos que Deus é severo no trato com o pecado e na imposição das punições para cada um dos participantes da rebelião contra Ele no Éden. Entretanto, é importante lembrar que “quando Sua bondade original foi desprezada no jardim do Éden em troca da independência que as criaturas queriam Dele, foi Deus quem tomou a iniciativa de buscar o homem (3.8, 9), de prometer a vitória definitiva sobre a serpente pela semente da mulher (3.15) e remediar a nudez e a vergonha do primeiro casal[23]”. No exercício de sua Justa punição, Deus não deixou de manifestar sua Graça Salvadora: O maior prejudicado na queda foi o próprio Deus, pois Ele mesmo assume as piores conseqüências da Queda e doa-se em amor ao mundo.

Da mesma forma o dilúvio revela Sua Justa retribuição à intenção do homem em contraposição à Lei Divina. Em sua Justa Soberania, Deus estabelece o juízo da rebeldia dos homens e os sentencia à morte no Dilúvio. Entretanto, temos que lembrar que Ele mesmo ofereceu 120 anos para o arrependimento dos seres humanos em demonstração de que age com paciência. Isso sem contar que Deus havia deixado um modo para que os homens pudessem ser libertos dessa punição, pela fé na instrução que havia dado a Noé (Hb.11.7). Assim, tanto a Paciência quanto Graça são observadas no exercício da Justiça de Deus[24].

Deve ser por isso que Ralph Smith diz: “Três coisas são essenciais a um bom juiz: autoridade e soberania; decisões justas e imparciais; e a capacidade de perceber e interpretar corretamente todas as evidências. Javé tem as três qualidades[25]”. Por isso, “a justiça de YAHWEH reflete-se não tanto em declarações sobre Seu caráter quanto nos meios simples e diretos pelos quais Ele julga a falta de conformidade do homem com o padrão de conduta prescrito pelo Criador[26]”.

Deus é Gracioso:

“Pelo contrário, ele opera exclusivamente em benefício do mundo que não tem intenção alguma de fazer o que é certo. Neste caso a eleição demonstra a misericordiosa bondade de Deus com o mundo[27]”.

Por que Deus não opera sua disciplina para com Jacó, que demonstra em sua história não manter uma padrão de conduta em nada parecido com o do seu pai? “O fato mais consolador é que Deus não mudou seu propósito, promessa ou poder. O caráter divino continua intacto, acentuando a sensação que o leitor tem de respeito e expectativa diante do futuro[28]”.

“A graça divina seleciona este homem [Jacó] terrivelmente imperfeito, não por causa de mérito algum de sua parte. O amor determina a decisão, e esse amor é tão grande por Jacó quanto é por Abraão e Isaque, pois as promessas divinas feitas anteriormente permanecem de pé[29]”.

“A graça intensifica-se quando o pacto de YAHWEH com a humanidade se focaliza em Abraão e sua linhagem: Ló é preservado pela graça (19.1-31), Isaque é poupado pela graça (cap.22), Jacó é escolhido por graça (25.19-23; cf. Rm.9.11, 12), assim como toda a família patriarcal é libertada da corrupção e miscigenação em Canaã pela provisão graciosa que YAHWEH lhes faz de José como vice-regente do Egito (caps.37-50)[30]”

Deus é Único:

Em oposição ao conceito do Oriente Médio Antigo, Gênesis apresenta um Deus que é Único, “nenhuma outra divindade questiona o direito divino de criar; nenhuma outra divindade ajuda Deus a criar nem se opõe à sua atividade criadora. Desde o princípio, ou desde a origem do tempo e da história, só Deus existe ou age[31]”.

“A idéia da unicidade de Deus no Antigo Testamento é singular e significativa. Enquanto outros povos antigos achacam que seus deuses eram muitos, cada um tendo sua própria esfera de influência e responsabilidade, o Israel antigo entendia que seu Deus era um (indivisivo), como todos os atributos e poderes da divindade em si mesmo, governando todas as esferas da existência[32]”

“A singularidade de YAHWEH aparece em cores ainda mais brilhantes no fato de que Ele é um Deus que, apesar de transcendente e todo-poderoso, busca um relacionamento com Suas criaturas e a elas Se revela. Ele estabelece alianças (cf. 9.8-17; 15.9-21; 17.1-27) e garante seu cumprimento ao prover e proteger milagrosamente a semente que havia prometido (18.13-15; 22.15-18; 25.21)[33]”